segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Entrevista com o jornalista Fabrício Marques sobre os protestos de 2013

Por Lígia Marques e Natália Ramacciotti
O jornalista Fabrício Marques, editor executivo e coordenador de mídias eletrônicas da revista Pesquisa FAPESP, nos recebeu na redação da própria publicação e, atencioso, comentou os fenômenos das manifestações deste ano, Mídia NINJA, a influência das redes sociais, e suas perspectivas futuras sobre o assunto.
A cidade de São Paulo foi responsável por dar início à onda das grandes manifestações, em junho de 2013. O estopim: o aumento dos vinte centavos na passagem de ônibus.
Foi então, que entrou em destaque o Mídia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). O representante, Bruno Torturra e seus companheiros, cobriram as manifestações, com direito até a vídeos ao vivo, direto dos locais em que ocorreram os protestos. Em um só dia a transmissão foi acompanhada por milhares de pessoas. Eles fazem uso da tecnologia e transformam tudo em informação, por meio de aplicativos de celulares, das redes sociais, como Facebook e Twitter.
Deadline - Para o senhor, o Mídia NINJA é considerado uma tendência entre os jovens?Fabrício Marques - Sim. É um ambiente onde se consegue alcançar uma certa audiência com o público, mas não o público massivo. Não precisam de tantos recursos, nem de muito dinheiro ou equipamentos, os recursos digitais permitem que existam várias formas da informação chegar ao destinatário.

Deadline - Para o senhor, qual seria o fator que levou os jovens a se manifestarem somente agora?
F.M - Há várias hipóteses. Acho que tem uma coisa, que não é restrita aos jovens, uma certa indignação coletiva com alguns problemas que tiveram o cume com o problema do transporte, que piorou muito em São Paulo, e uma certa indignação com o tratamento que os protestos receberam. Depois os casos de corrupção se juntaram e, na verdade, um pavio foi aceso. Pode-se ver, por exemplo, grupos ultras radicais, de extrema esquerda, que tentaram mobilizar as pessoas a favor de mudanças, como os que invadiram a USP, mascarados, os integrantes devem estar no meio desses protestos. Os protestantes brigam por coisas importantes, que incentivaram todos a também irem às ruas, principalmente após a repressão dos policiais. Agora as coisas estão mais calmas, é necessário aparecer uma nova pauta, acredito que Rio de Janeiro é um forte pretendente a isso, pois há um componente principal, a indignação contra o governo. É uma coleção de pautas que se juntaram. Agora estão em uma outra fase, meio fascista, eles vão para as ruas para quebrar.

Deadline - A agressividade nas manifestações tem algum ponto positivo?
F.M - Quebrar um orelhão, vidros de banco, tentar botar fogo no Itamarati... Qual é o sentido? Há quem diga que está reagindo da mesma forma que a sociedade age com ele. Em uma ou outra situação pode haver alguma justificativa, como a das pessoas que acuaram um policial, com a explicação “O que a gente fez com ele a policia faz com a gente.”. Eventualmente, essas reações podem ser justificadas, mas acredito que, na maioria dos casos, não. Não há uma pauta, é a violência pela violência, uma coisa meio fascista mesmo, o que traz um efeito contrário, que afasta as pessoas, por conta do medo. É como em um estádio de futebol.

Deadline - O Senhor vê continuidade nos movimentos? Com quais expectativas e futuras reivindicações?
F.M - É difícil dizer. Vamos entrar em um ano de eleição e Copa do Mundo, 2014. Acredito em um amortecimento pela Copa do Mundo. Em relação às eleições, todo mundo irá às urnas, não serão apenas alguns grupos, e isto pode ser frustrante para quem acha que indo para as ruas, se manifestar, poderia mudar alguma coisa. Quem foi, e vai, para as manifestações são os grupos, que tem uma força moral, mas não é a maioria da população. São dois ou três milhões que participaram, e o país tem 200 milhões. O ano de eleição é tenso por natureza, há o horário eleitoral, brigas, oposição falando mal do governo, o governo dizendo o que fez, os aliados defendendo, apanhando... Quais influências essas mobilizações vão causar nisso? Eu não consigo prever. Mas acredito que será algo desigual entre os estados.

Deadline - Os brasileiros adotaram a máscara do V de vingança (Anonymous) como símbolo. Existe para o senhor, algum símbolo ou personalidade nacional que poderia ser usada nas mesmas circunstâncias?
F.M - É muito pulverizado, acredito que dependa de cada grupo. Houve uma manifestação em que os integrantes usaram a máscara do Joaquim Barbosa, mas não houve muita repercussão e, para mim, isto é um problema já que não há uma liderança. Há muitas caras, mas a principal, hoje, são os mascarados, os Blacks Blocs, que estão virando um símbolo.

Deadline - Existem estudos abordando as manifestações que ocorreram este ano?F.M - Não. É cedo para um estudo mais aprofundado, pois estes trabalhos demoram, os mais rápidos terminam em dois anos. Há um ebook chamado Choques da Democracia, de Marcos Nobre, que foi bem recebido, aplaudido, porém é mais uma análise de um intelectual do que um estudo sociológico.

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